Genesis
Eu vivi no primeiro de todos os jardins que existem e que já existiram! O Éden!
Aquele criado num estalar de dedos em um de sete dias. Por algum deus.
Mais tarde minha garota e eu comemos uma maça deliciosa que não se podia comer. Fomos expulsos por desobediência. Nós era foda!
Todo conhecimento e consciência que não se podia, tivemos. Toda liberdade, mais livre arbítrio, que não se podia, tivemos.
E quanto sofrimento.
Muitos pecados.
Que gostoso!
Comecei a construir meus próprios jardins. Suspensos da Babilônia, orientais meditativos, poéticos italianos, simétricos franceses, irregulares ingleses, desérticos floridos (ê, mandacaru!)… foram tantos. Pintei até o jardim das delícias!
Nunca me era suficiente. Eram apenas construções.
Mas um dia eu encontrei a redenção quando me deparei com um jardim distante, escondido pra lá da borda da Terra onde o além mar deságua. O jardim inicial. O novo mundo!
Mas desta vez quis comer não somente a maça, mas muito mais do que várias maças: especiarias, paus, pedras! Pau brasil, prata, ouro, diamante, até esmeralda, agora lítio. Açúcar, café, borracha, soja. Água!! Criei minha própria maça: geneticamente modificada, transgênica e agrotoxicada. Destruí o paraíso. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Perdi tudo. Ou quase tudo.
Nesses tempos por não-lugares por onde passei, fixei lembranças perdidas em pedras brancas para enfeitar o meu último e pequenino jardim.
Na minha varanda de cinco metros quadrados.
O meu último céu.