Dentro do bolso esquerdo do peito

Suas mãos tracejam as folhas com as costas de seus dedos como cumprimentos. As conversas são silenciosas e perfumadas, em terra seca ou em terra molhada. Arruda, roseira, planta medicinal, hortaliça ou mato. Chifre-de-veado, onze-horas, espada-de-são-jorge, brinco-de-princesa, comigo-ninguém-pode, dama-da-noite, dente-de-leão, costela-de-adão, fruta-do-conde, maria-sem-vergonha. Na despedida ela guarda no bolso uma lembrança, um cheiro, um ramo, uma muda.

Cada canto da casa transforma-se em um céu de nuvens brancas com o defumador de alumínio fumegante de folhas secas e um pouco de brasa de carvão enquanto sussurros emudecem o tempo.

Depois do banho de chuveiro, um balde de água quente fervida com ervas sobre o corpo mas abaixo da cabeça para deixar secar naturalmente. A névoa adocicada ventila os pulmões e suaviza o suor da sauna. Lavar a alma.

Alguns peixinhos vermelhos observam tudo embaixo das raízes dos aguapés do aquário no quintal das rosas vermelhas altas. Um hamster branco vive ali.

Aquela semente daquela folha daquela planta continua brotando dentro do bolso esquerdo do meu peito.